
Por Luiz Guilherme
Como diz bem o slogan do filme, o inimigo agora é outro. O buraco é mais embaixo, ou em cima, se preferir. Se no primeiro Tropa de Elite víamos bandidos de camisa de regata e chinelo sendo torturados e mortos a sangue frio, nesse nos é mostrado outro tipo de bandido, que costuma usar terno e gravata: os políticos corruptos e outros “colarinhos brancos” que se aproveitam de qualquer situação para ganhar mais dinheiro e poder. A corrupção começa no topo do poder antes de chegar na polícia, na mídia e nos morros, e é nessa ferida que José Padilha espreme um limão inteiro.
Depois de assistir “Tropa de Elite 2” (2010), saí pensativo da sala de cinema. E satisfeito com que tinha visto. Demorei mais de uma hora na fila pra conseguir um ingresso para a última sessão. Olhando pelo lado positivo, isso é animador para o cinema nacional. Nunca vi uma mobilização tão grande para assistir um filme brasileiro nas telonas. Palavra de quem já está mais do que acostumado a ver filas imensas para assistir as grandes produções norte-americanas.

Assim como no primeiro filme, o Coronel Nascimento é responsável por narrar em off, de forma até didática, tudo que se passa diante dos olhos do espectador. A diferença é que na continuação, ele é o protagonista. Outro personagem que merece destaque é o deputado Fraga, contraponto do coronel Nascimento em todos os aspectos. Para resolver o problema da violência urbana, ele prefere o diálogo a tiros e torturas; e apesar dele e Nascimento não “se bicarem” de jeito nenhum, cada um, à sua maneira, luta por uma sociedade mais justa. Fora os dois, há uma galeria de personagens marcantes, como o corrupto capitão Fábio (Milhem Cortaz), dono dos novos bordões, que serão repetidos pelos fãs do filme, o cruel líder da poderosa milícia da zona Oeste, Russo (Sandro Rocha) e o hilário apresentador de um programa sensacionalista de TV, Fortunato (André Mattos).
“Tropa de Elite 2” é superior ao primeiro filme, principalmente pelo roteiro que desfaz alguns mal entendidos deixados pelo primeiro longa. O principal deles é a de que o Bope era a solução definitiva para a violência do Rio de Janeiro. Na continuação, “os caveiras”, além de serem deixados um pouco de lado, são mostrados como apenas uma peça nesse tabuleiro da violência urbana, pois são eles que, ao eliminar os traficantes, acabam abrindo caminho para o fortalecimento das milícias, formadas por policiais corruptos que dominam as favelas, exploram os moradores de forma tão ou mais violenta que os traficantes e transformam as comunidades em “currais eleitorais”.
Como diz bem o slogan do filme, o inimigo agora é outro. O buraco é mais embaixo, ou em cima. Se no primeiro Tropa de Elite víamos bandidos de camisa de regata e chinelo sendo torturados e mortos a sangue frio, nesse nos é mostrado outro tipo de bandido, que costuma usar terno e gravata: os políticos corruptos e outros “colarinhos brancos” que se aproveitam de qualquer situação para ganhar mais dinheiro e poder. A corrupção começa no topo do poder antes de chegar na polícia, na mídia e nos morros, e é nessa ferida que José Padilha espreme um limão inteiro.
Apesar de ser uma ficção, é impossível não associar muitas das cenas do filme a fatos reais e a personagens reais. As cenas de ação, aliás, são de tirar o fôlego. Na medida pra atrair o público jovem, predominante na sessão em que eu assisti – a maioria, aparentemente, jovens eleitores. Por isso, acho ótimo que o filme vá além dos tiros e palavrões, e de alguma forma convide esse público jovem a refletir sobre a importância de votar consciente – a reflexão, é claro, é muito bem vinda ao velho eleitor também. Esse, talvez, seja o maior acerto do roteiro: mostrar que apesar de toda a corrupção existente na sociedade, ainda há pessoas dispostas a fazer a diferença e que, portanto, merecem os nossos votos. Resta a nós, eleitores, deixarmos o comodismo de lado e garimpar os bons políticos e não, numa revolta imatura, votar no Tiririca como em forma de protesto alegando que nenhum político presta e que por isso pior do que está não fica. Além de um filme excelente (do ponto de vista técnico), merecedor de bater todos os recordes nas bilheterias e de, quem sabe, representar o cinema brasileiro no Oscar em 2012, essa é uma nobre contribuição que o filme acaba nos trazendo. Muito bem vinda, por sinal, em ano de eleição. Só lamento o filme não ter estreado muito antes do primeiro turno.

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