Dos adolescentes entre 12 e 17 anos, 48,3%, já beberam alguma vez na vida. Desses, 14,8% bebem regularmente e 6,7% são dependentes de álcool
Puberdade é o termo usado na medicina para definir a transição entre a infância e a adolescência. Já o termo adolescência é mais usado na psicologia e identifica o período em que o corpo muda e a mente procura acompanhar essas transformações. Por isso a adolescência é um período tão conturbado, em que tudo acontece ao mesmo tempo.
A nova realidade faz com que o jovem conteste regras e busque uma série de experimentações: drogas, álcool, mentiras, burlar regras são algumas delas. Esse comportamento acaba sendo esperado dentro de um limite.
“As atitudes passam a preocupar quando excedem esses limites, como deixar de ir à escola, não conviver com a família, cometer pequenos furtos e, a partir disso, envolver-se em coisas mais graves. É nesse momento que os responsáveis pelo adolescente devem tomar providências”, garante Berenice Carpediane, psicoterapêuta e professora do curso de Psicologia da Universidade Prebisteriana Mackenzie.
Uso Precoce do álcool
Cada vez mais recorrente na adolescência, o uso do álcool preocupa por suas conseqüências físicas, mentais e sociais. Em novembro de 2006, foram divulgados os resultados os resultados do segundo levantamento sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil, realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid).
O Levantamento revela um aumento dos dependentes de álcool no País, de 11,2%, em 2001, para 12,3%, em 2006. Foram focalizadas 107 cidades com mais de 200 mil habitantes e ouvidas 8,5 mil pessoas entre12 e 65 anos. A pesquisa destaca que é particularmente preocupante o uso precoce do álcool, uma vez que quanto mais cedo se inicia o consumo, tanto maior é o risco de tornar-se dependente.
Ainda segundo o Cebrid, é importante notar que 48,3% dos adolescentes na faixa etária dos 12 aos 17 anos já beberam alguma vez na vida (52,2% rapazes; 44,7% moças). Desses, 14,8% bebem regularmente e 6,7% são dependentes.
Para Berenice Carpediane, o adolescente que tem a bebida como a sua principal falta de limites geralmente procura um suporte para entender uma realidade interna desconhecida. “Não estou afirmando que todo adolescente alcoólatra tem um caso inconsciente, mas é muito comum que isso aconteça”, ressalva a psicoterapeuta.
Influência Familiar
Em outros casos, a influência da família é fator determinante, como explica o psicólogo Gilberto Ferreira, mestre pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e o doutor pela Universidade de São Paulo (USP). “A criança começa a observar o comportamento dos pais desde muito cedo, e com isso percebe que situações de alegria e prazer estão relacionadas ao consumo de álcool.
No decorrer de sua vida, repetirá esse comportamento, relacionando-o sempre às situações de descontração, desafio e coragem, nunca a um vício.” Além dessa influência, outros fatores podem levar ao consumo abusivo do álcool, como nos revela a psicóloga Sonia Regina Solano Paes Breda, do Centro Terapêutico Viva, um centro de recuperação de dependentes químicos.
“Curiosidade latente, aceitação em um grupo de amigos, diversão, liberdde, desafio e autonomia dos pais são fatores determinantes. Logo esse hábito de beber para se alegrar e descontrair acaba virando o motivo maior de sua felicidade e até se tornando um refúgio para seus problemas.”
Acostumada a ver muitos casos parecidos no centro de recuperação, a psicóloga alerta para o fato de o efeito do álcool, apesar de causar euforia instantânea, ser seguido de depressão do sistema nervoso, o que deixa a pessoa ainda mais desconfortável e ansiosa.
“Comecei beber aos 14 anos junto com supostos amigos, pequenas doses que, aos poucos, foram aumentando. Quando bebia ficava violento e não tinha medo de nada – o alcoolista se acha o “super-homem”. “Eu usava a bebida como válvula de escape para meus problemas, tentando sair da realidade, mas depois que o efeito acabava, os problemas retornavam e a frustração aumentava”, declara Luiz Antônio da Cruz, assistente de administração, alcoolista recuperado há 13 anos, aos longo tratamento. “Minha esposa me abandonou e minha família disse que se não parasse de beber iria morar na rua. Resolvi tentar. Fui com minha mãe à Associação antialcoólica de São Paulo, assisti a vários depoimentos, que me deram uma luz, e senti uma felicidade muito grande. “Foi então que decidi mostrar à minha esposa e família que nunca mais ninguém iria me chamar de bêbado”, conta Luiz Antônio. Hoje ele é responsável pelo site www.alcoolismo.com.br.
Tratamento multidisciplinar
Para o diagnóstico, é preciso, em primeiro lugar, uma observação honesta dos pais ou responsáveis pelo adolescente, que devem reconhecer seus limites quando não conseguem mais lidar com o problema. O trajeto de cura passa por um trabalho multidisciplinar envolvendo profissionais da área de saúde. O médico, geralmente um psiquiatra ou mesmo um clinico geral, será o responsável pelo processo de desintoxicação e, se necessário, fará uso de medicamentos.
O psicólogo trabalhará em conjunto com esse médico e cuidará das questões emocionais. O apoio de grupos terapêuticos como Alcoólicos Anônimos (A.A) é uma alternativa que auxilia, à medida que fez o adolescente perceber que não está sozinho. “Nesses grupos, há um compartilhamento de angústias, medos, conquistas, curas. Após algum tempo na terapia, os adolescentes aceitam participar das reuniões, mas é muito importante que toda a família se envolva”, garante a psicoterapeuta Berenice Carpediane.
Para ele, é necessário não generalizar na afirmação de que o álcool é a porta de entrada para todas as outras drogas. De acordo com Berenice, alguns alcoólatras nunca experimentarão outro tipo de droga. A personalidade de quem escolhe o álcool ou outra droga é muito particular.
É importante ressaltar, também, que nem todo adolescente que tem contato com o álcool desenvolverá a dependência. Ainda segundo Berenice, “voltamos ao ponto do estabelecimento de limites: passar pelo bar durante a adolescência, em algumas ocasiões, é normal. O que não é normal é ficar no bar por muito tempo e deixar os compromissos de lado”.
Em qualquer situação deve-se agir com cautela, respeito e observação por parte dos pais ou responsáveis pelo adolescente, pois “é na família que todas as experiências têm seu inicio; são os pais os primeiros a nos mostrar o mundo” afirma Berenice.
Alguns sinais são característicos e indicam quando uma pessoa desenvolve a dependência a dependência alcoólica:
- Beber todos os dias, independentemente da quantidade ingerida.
- Distanciar-se da família.
- Ficar irritado quando as pessoas falam da bebida.
- Começar a beber logo cedo.
- Não largar do copo em festas e pensar que todos estão contra você.
- Achar que só você está certo em relação à quantidade que deve beber.
À espera da lei
O projeto de lei n°0630/2006, de autoria do vereador do PSDB/SP, Carlos Alberto Bezerra Júnior, proíbe a venda e bebidas alcoólicas em estabelecimentos comerciais e similares localizados a menos de 200 metros de instituições de ensino fundamental, médio, superior e profissionalizante.
Enquanto o projeto não vira lei. O que vemos são muitos bares no entorno de escolas e universidades onde os jovens estabelecem pontos de encontro, deixando, muitas vezes, de freqüentar as aulas.
Fonte: Revista Mackenzie - Ano VI - Nº 39 - Pag° 56 - 59 / 2007
Puberdade é o termo usado na medicina para definir a transição entre a infância e a adolescência. Já o termo adolescência é mais usado na psicologia e identifica o período em que o corpo muda e a mente procura acompanhar essas transformações. Por isso a adolescência é um período tão conturbado, em que tudo acontece ao mesmo tempo.
A nova realidade faz com que o jovem conteste regras e busque uma série de experimentações: drogas, álcool, mentiras, burlar regras são algumas delas. Esse comportamento acaba sendo esperado dentro de um limite.
“As atitudes passam a preocupar quando excedem esses limites, como deixar de ir à escola, não conviver com a família, cometer pequenos furtos e, a partir disso, envolver-se em coisas mais graves. É nesse momento que os responsáveis pelo adolescente devem tomar providências”, garante Berenice Carpediane, psicoterapêuta e professora do curso de Psicologia da Universidade Prebisteriana Mackenzie.
Uso Precoce do álcool
Cada vez mais recorrente na adolescência, o uso do álcool preocupa por suas conseqüências físicas, mentais e sociais. Em novembro de 2006, foram divulgados os resultados os resultados do segundo levantamento sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil, realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid).
O Levantamento revela um aumento dos dependentes de álcool no País, de 11,2%, em 2001, para 12,3%, em 2006. Foram focalizadas 107 cidades com mais de 200 mil habitantes e ouvidas 8,5 mil pessoas entre12 e 65 anos. A pesquisa destaca que é particularmente preocupante o uso precoce do álcool, uma vez que quanto mais cedo se inicia o consumo, tanto maior é o risco de tornar-se dependente.
Ainda segundo o Cebrid, é importante notar que 48,3% dos adolescentes na faixa etária dos 12 aos 17 anos já beberam alguma vez na vida (52,2% rapazes; 44,7% moças). Desses, 14,8% bebem regularmente e 6,7% são dependentes.
Para Berenice Carpediane, o adolescente que tem a bebida como a sua principal falta de limites geralmente procura um suporte para entender uma realidade interna desconhecida. “Não estou afirmando que todo adolescente alcoólatra tem um caso inconsciente, mas é muito comum que isso aconteça”, ressalva a psicoterapeuta.
Influência Familiar
Em outros casos, a influência da família é fator determinante, como explica o psicólogo Gilberto Ferreira, mestre pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e o doutor pela Universidade de São Paulo (USP). “A criança começa a observar o comportamento dos pais desde muito cedo, e com isso percebe que situações de alegria e prazer estão relacionadas ao consumo de álcool.
No decorrer de sua vida, repetirá esse comportamento, relacionando-o sempre às situações de descontração, desafio e coragem, nunca a um vício.” Além dessa influência, outros fatores podem levar ao consumo abusivo do álcool, como nos revela a psicóloga Sonia Regina Solano Paes Breda, do Centro Terapêutico Viva, um centro de recuperação de dependentes químicos.
“Curiosidade latente, aceitação em um grupo de amigos, diversão, liberdde, desafio e autonomia dos pais são fatores determinantes. Logo esse hábito de beber para se alegrar e descontrair acaba virando o motivo maior de sua felicidade e até se tornando um refúgio para seus problemas.”
Acostumada a ver muitos casos parecidos no centro de recuperação, a psicóloga alerta para o fato de o efeito do álcool, apesar de causar euforia instantânea, ser seguido de depressão do sistema nervoso, o que deixa a pessoa ainda mais desconfortável e ansiosa.
“Comecei beber aos 14 anos junto com supostos amigos, pequenas doses que, aos poucos, foram aumentando. Quando bebia ficava violento e não tinha medo de nada – o alcoolista se acha o “super-homem”. “Eu usava a bebida como válvula de escape para meus problemas, tentando sair da realidade, mas depois que o efeito acabava, os problemas retornavam e a frustração aumentava”, declara Luiz Antônio da Cruz, assistente de administração, alcoolista recuperado há 13 anos, aos longo tratamento. “Minha esposa me abandonou e minha família disse que se não parasse de beber iria morar na rua. Resolvi tentar. Fui com minha mãe à Associação antialcoólica de São Paulo, assisti a vários depoimentos, que me deram uma luz, e senti uma felicidade muito grande. “Foi então que decidi mostrar à minha esposa e família que nunca mais ninguém iria me chamar de bêbado”, conta Luiz Antônio. Hoje ele é responsável pelo site www.alcoolismo.com.br.
Tratamento multidisciplinar
Para o diagnóstico, é preciso, em primeiro lugar, uma observação honesta dos pais ou responsáveis pelo adolescente, que devem reconhecer seus limites quando não conseguem mais lidar com o problema. O trajeto de cura passa por um trabalho multidisciplinar envolvendo profissionais da área de saúde. O médico, geralmente um psiquiatra ou mesmo um clinico geral, será o responsável pelo processo de desintoxicação e, se necessário, fará uso de medicamentos.
O psicólogo trabalhará em conjunto com esse médico e cuidará das questões emocionais. O apoio de grupos terapêuticos como Alcoólicos Anônimos (A.A) é uma alternativa que auxilia, à medida que fez o adolescente perceber que não está sozinho. “Nesses grupos, há um compartilhamento de angústias, medos, conquistas, curas. Após algum tempo na terapia, os adolescentes aceitam participar das reuniões, mas é muito importante que toda a família se envolva”, garante a psicoterapeuta Berenice Carpediane.
Para ele, é necessário não generalizar na afirmação de que o álcool é a porta de entrada para todas as outras drogas. De acordo com Berenice, alguns alcoólatras nunca experimentarão outro tipo de droga. A personalidade de quem escolhe o álcool ou outra droga é muito particular.
É importante ressaltar, também, que nem todo adolescente que tem contato com o álcool desenvolverá a dependência. Ainda segundo Berenice, “voltamos ao ponto do estabelecimento de limites: passar pelo bar durante a adolescência, em algumas ocasiões, é normal. O que não é normal é ficar no bar por muito tempo e deixar os compromissos de lado”.
Em qualquer situação deve-se agir com cautela, respeito e observação por parte dos pais ou responsáveis pelo adolescente, pois “é na família que todas as experiências têm seu inicio; são os pais os primeiros a nos mostrar o mundo” afirma Berenice.
Alguns sinais são característicos e indicam quando uma pessoa desenvolve a dependência a dependência alcoólica:
- Beber todos os dias, independentemente da quantidade ingerida.
- Distanciar-se da família.
- Ficar irritado quando as pessoas falam da bebida.
- Começar a beber logo cedo.
- Não largar do copo em festas e pensar que todos estão contra você.
- Achar que só você está certo em relação à quantidade que deve beber.
À espera da lei
O projeto de lei n°0630/2006, de autoria do vereador do PSDB/SP, Carlos Alberto Bezerra Júnior, proíbe a venda e bebidas alcoólicas em estabelecimentos comerciais e similares localizados a menos de 200 metros de instituições de ensino fundamental, médio, superior e profissionalizante.
Enquanto o projeto não vira lei. O que vemos são muitos bares no entorno de escolas e universidades onde os jovens estabelecem pontos de encontro, deixando, muitas vezes, de freqüentar as aulas.
Fonte: Revista Mackenzie - Ano VI - Nº 39 - Pag° 56 - 59 / 2007
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