TV Vitória
Redação Folha Vitória
A polícia vai investigar indícios de tortura no caso dos adolescentes que foram espancados por seguranças do
Terminal de Campo Grande, em Cariacica. Segundo o titular da Delegacia
de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), delegado Marcelo Nolasco, uma das
vítimas prestou depoimento nesta sexta-feira (13).
“Temos fortes indícios de que não se tratou apenas de uma agressão, mas de um
crime de tortura. O garoto apanhou para confessar um suposto delito”,
comentou.
As imagens chocantes da agressão foram registradas por um passageiro na noite
de quinta-feira (12) e divulgadas com exclusividade pela TV Vitória. Tudo teria
começado com uma confusão em uma fila do terminal. De acordo com o homem que fez
as imagens, os meninos começaram a brigar por causa de um boné. O homem, que não
quis se identificar, disse que nenhum crime teria sido cometido.
Os seguranças levaram os dois garotos que foram colocados sentados em um
banco. O cinegrafista amador se aproximou e flagrou o momento em que o segurança
desferiu o primeiro soco contra um dos adolescentes. Em seguida, o homem se
posicionou de pé em frente aos meninos e chutou um deles.
As vítimas até tentaram convencer o segurança a parar com a agressão, mas o
homem ficou ainda mais violento e, com uma das mãos, apertou o pescoço do
adolescente. Depois disso, vieram mais socos e ameaças. O menino disse que não
fez nada e implorou para que o agressor parasse. Ele chorava e gritava ao mesmo
tempo.
“A questão era apenas por causa de um boné. Parecia que um queria o boné e o
outro também. Não houve nenhum delito por parte dos meninos. Como qualquer
cidadão, eu imagino que não havia nenhum parâmetro que estabelecesse o direito
de os vigilantes agredirem os meninos”, comentou o homem.
Na sequência das imagens é possível ver o momento em que outro segurança se
aproximou e deu um chute no outro menor. Uma funcionária alertou ao segurança
que iniciou a agressão que ele estava sendo filmado e, quando ele virou para o
cinegrafista, um dos menores aproveitou para fugir. O terminal ainda estava
bastante movimentado e muitos passageiros presenciaram a ação.
As pessoas seguiram atrás dele e, pouco tempo depois, o menino foi encontrado
e carregado por outros funcionários. Três homens o seguraram pelas pernas e
braços. A ação de violência só terminou quando alguns motoristas, cobradores e
fiscais conversaram com o menor e entenderam o que realmente aconteceu.
Para o homem que flagrou a cena, tudo o que aconteceu foi uma covardia. “Uma
sensação muito ruim. Chega a dar um nó no interior da pessoa porque você vê que
a criança está ali indefesa. O menino não tinha como se defender pelo tamanho e
pela postura dos vigilantes. Foi uma covardia”, lamentou a testemunha.
Depois de ver as cenas pela televisão, a mãe de um dos meninos foi à
delegacia. “Fico me sentindo mal porque sou mãe e não posso bater. Como os
outros podem? Cadê a Justiça?”, lamentou.
Um dos jovens agredidos contou com detalhes o tudo aconteceu. “Eles bateram
bastante. Estou todo machucado e dolorido”.
A equipe de reportagem da TV Vitória foi até a sede da empresa responsável
pela segurança do terminal, mas ninguém quis gravar entrevista. Por meio de
nota, a empresa informou que lamenta o ocorrido e que a postura dos funcionários
não condiz com o código de ética da empresa. A nota diz ainda que a empresa está
apurando o caso e que vai tomar as medidas cabíveis contra os seguranças.
“Estamos oficiando o terminal para que forneça outras imagens que podem
existir, bem como a identificação dos profissionais para que possamos dar início
ao inquérito profissional”, finalizou o delegado.
As imagens da agressão foram mostradas à gerência de manutenção dos terminais
da Companhia de Tranportes Urbanos da Grande Vitória, a Ceturb. “A Ceturb não
compactua com esse tipo de ação dos vigilantes. A empresa vai ser advertida para
responder porque eles agiram dessa forma. Ela não está orientada de forma
nenhuma a agir dessa maneira, com essa agressão. A empresa é terceirizada. É a
Transegur que presta serviço para a Ceturb. A empresa foi contratada para
apaziguar os tumultos que acontecem no terminal e não ocasionar tumulto”,
comentou Flávia Juliana.
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