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quinta-feira, novembro 10, 2011

Gravidez e cigarro: o impacto na saúde de mãe e filho

Os problemas que o fumo podem causar se estendem pelo resto da vida. Veja por que ele deve ser eliminado da vida do bebê desde a gravidez


Dia 29 de agosto é o Dia Nacional de Combate a Fumo. Que cigarro e gravidez não combinam, você já sabe. Não custa lembrar, no entanto, que os problemas podem se estender para o resto da vida do seu filho. "Um único cigarro fumado por uma grávida é capaz de acelerar os batimentos cardíacos do feto", afirma Jaqueline Sholz Issa, cardiologista. Os danos, segundo ela, são grandes e numerosos. "Este único cigarro tem 4.500 substâncias nocivas que chegam até o bebê. A placenta não impede a passagem de moléculas pequenas como a nicotina", explica a médica, coordenadora do Ambulatório de Tratamento de Tabagismo do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP (Incor) e autora do livro "Deixar de fumar ficou mais fácil" (MG Editores).

Quando a mãe acende um cigarro e dá uma tragada, componentes tóxicos, como o monóxido de carbono, chegam até os pulmões e são liberados para a corrente sanguínea. O coração bombeia o sangue intoxicado para todo o corpo da mãe, inclusive para o feto. A placenta, por sua vez, não consegue barrar a passagem de todas essas substâncias, como a nicotina - que, aliás, é considerada "vilã" porque trabalha contra o bebê. Ao causar estreitamento dos vasos, ela impede que os nutrientes necessários para o desenvolvimento do feto cheguem satisfatoriamente. O resultado é uma série de problemas para mãe e filho.

A gestante tem 70% mais chances de ter um aborto espontâneo e 40% de dar à luz antes da hora. Baixo peso e altura, risco de má formação do feto, complicações cardíacas e risco da síndrome da morte súbita infantil também são esperados. Há ainda a possibilidade de a criança nascer com tendência à dependência química do cigarro. Alguns estudos comprovam que o fumo pode causar danos à inteligência e ao rendimento intelectual da criança e que estaria associado a distúrbios do comportamento e a ocorrência de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.

Além desses problemas no curto prazo, ronda ainda o fantasma de doenças futuras. Uma pesquisa recente da American Heart Association (Associação Cardíaca Americana) mostrou que gestantes que fumam aumentam os riscos de seus filhos terem derrame e ataque cardíaco quando adultos, já que os descendentes tendem a ter paredes das artérias carótidas na nuca mais grossas (a espessura das paredes internas das artérias da nuca é usada para determinar o nível da aterosclerose).

Combate ao fumo
Para Jaqueline, que trabalha há mais de 15 anos no combate ao cigarro, o tabagismo é uma doença. No final dos anos 1980, os cientistas descobriram que o cérebro tem receptores de nicotina e que ela, a nicotina, tem poder de adição maior do que drogas como cocaína e heroína. "A partir daí, tudo mudou, inclusive o jeito de encarar o fumante, que deve contar com ajuda especializada e apoio. O uso de medicamentos no tratamento diminui os sintomas da privação e também o sofrimento no processo conhecido como desligamento", diz.

O uso de medicamentos para parar de fumar, contudo, não são recomendados para grávidas. Eles têm substâncias nocivas e só devem ser prescritos se o médico considerar o ganho maior do que o risco. O ginecologista e obstetra Luís Fernando Aguiar, do Hospital Albert Einstein, lembra que, felizmente, a maior parte das mulheres acaba parando de fumar na gestação. "Além de pensarem na saúde do bebê, muitas grávidas têm enjoo e aversão ao cheiro de cigarro. A natureza é sábia e provoca esses sintomas de proteção", diz. Quando é necessário lançar mão de algum recurso químico, o médico opta pela fluoxetina, um antidepressivo seguro na gravidez. "Mas eu sempre recomendo suspender o cigarro em 100%. Não adianta reduzir, os efeitos são péssimos", afirma.

Como parar durante a gravidez?
"Desde quando decidi que iria engravidar, parei de vez... Antes nunca havia conseguido", recorda Luanda Rodrigues. Para ela, que já fumava há 15 anos, a preocupação com a saúde do bebê foi motivação o bastante. Se você está tentando deixar o cigarro, inspire-se nela e veja, também, as nossas dicas a seguir.
- Nenhum tipo de tratamento contra o fumo é indicado durante os nove meses da gestação, nem a goma de mascar. Eles têm substâncias nocivas e só devem ser prescritos se o médico considerar o ganho maior do que o risco. Se a mulher fuma mais de dois maços por dia, ela poderia usar o adesivo.

- A maioria das mulheres acaba parando de fumar na gestação. Além de pensarem na saúde do bebê, muitas grávidas têm enjoo e aversão ao cheiro do cigarro. A natureza é sábia e provoca esses sintomas de proteção.

- Quando é necessário lançar mão de algum recurso químico - uma das opções, sempre -, o médico opta pela fluoxetina, um antidepressivo seguro na gravidez.

Um estudo canadense mostra que as crianças também podem se tornar viciados em nicotina apenas por conviver com pessoas que fumam. Liderada por Jennifer O'Loughlin, pesquisadora da Universidade de Montreal, Canadá, a pesquisa revela que sintomas claros de dependência de nicotina, como depressão, insônia, irritabilidade, ansiedade, aumento de apetite e problemas na concentração, foram observados em cerca de 5% das 1.800 crianças entrevistadas, todas entre 10 e 12 anos, e que nunca haviam fumado. “Esses dados servem para mostrar que políticas públicas relacionadas ao fumo precisam ser rígidas”, comenta O’Loughlin.

Fonte: http://revistacrescer.globo.com/

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