Lina Aparecida Zardo**Pediatra e professora universitária aposentada.
ZERO HORA
Impossível não ficarmos tocados com a série de reportagens sobre os adolescentes infratores. A análise sobre os péssimos desfechos de um grupo, após dez anos de atendimento socioeducativo, nos horrorizou. A pediatra Joelza, guerreira no assunto de maus tratos infanto-juvenis e diretora da Fase, mostra-se apreensiva e fala que muitas mudanças precisam ser feitas. Um psiquiatra do mesmo serviço manifesta total descrença sobre as chances de cura ou reabilitação dos internos infratores. Trago, então, o tema tentando repensar a prevenção, em como evitar o nascimento de jovens delinquentes.
Quando iniciamos os estudos sobre adolescência aqui no Rio Grande do Sul, nos anos 80, buscamos subsídios de várias fontes: no Rio e em São Paulo já existiam serviços vinculados às Faculdades de Medicina e alguns países já possuíam tradição de atendimento clínico nesta área da Pediatria. Porém, nossa maior fonte de conhecimentos foi a Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta instituição prima por normatizar ações educativas e preventivas em saúde. Pois a OMS enfatiza que na adolescência a prevenção tem de ser primordial, isto é, ela tem de anteceder os fatos, ela tem de ser realizada na origem dos problemas, muito precocemente. Então, para não delinquir na infância/adolescência é preciso ter um bom começo de vida.
Felizmente no Brasil a gestação na adolescência tem diminuído nas últimas décadas, embora ainda preocupe. A taxa era de 20% do total de gestações e agora, no estudo de Pelotas está em 14,5%. O bebê tem de nascer onde houver um par de bons cuidadores. A mãe deve fazer um pré-natal completo, deve preferir um parto natural numa maternidade qualificada. O hospital deve possuir o título de "Hospital Amigo da Criança", que significa estar preparado para prestar bons cuidados e ser um incentivador de aleitamento materno. Os vínculos criados entre mãe-bebê nos primeiros meses vão deixar marcas indeléveis na mente do bebê e serão marcadores de bom futuro. Outros vínculos também são fundamentais, como ter endereço fixo, pais trabalhando, ter avós, ter histórias de família.
Durante a primeira infância, que são os dois primeiros anos, é essencial pertencer a um grupo familiar. A família atual é variável. Ótimo se forem pai e mãe juntos. Poderá também ser uma avó, a mãe sozinha, outro familiar, mas é imprescindível que o cuidador seja protetor e que a criança possa ainda frequentar creche, se for preciso. Nos anos pré-escolares deverá estar vigiada pelos familiares e pela escolinha, devendo brincar muito. No período escolar os pais devem compartilhar sua evolução e a escola, ser acolhedora e estimulante. Nesta trajetória ideal, ao surgirem problemas de saúde ou de conduta, é preciso que exista um acesso fácil e seguro a um local de atendimento multiprofissional. Sabemos que os serviços são insuficientes! Há poucos pediatras, psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais na rede pública e os casos não encontram acolhimento ou são atendidos com deficiências.
Diz a ministra Maria do Rosário que é preciso envolver a família, a sociedade e o poder público nas medidas preventivas. Todos temos uma parcela de responsabilidade. Lembro um filme de Ingmar Bergman sobre uma aldeia norueguesa onde havia um menino órfão com conduta antissocial. O que fazer com o menino era resolvido numa reunião da comunidade onde era decidido, em grupo, qual a família o acolheria e por quanto tempo. Com a descontrolada urbanização, impossível medidas deste tipo entre nós. Pode-se, entretanto, repensar em cada caso de distúrbio familiar e/ou infantil, as possibilidades de diagnóstico e de atendimento e lutar para que se concretizem as medidas necessárias e para que toda criança tenha um lar (talvez adotivo) para vivenciar sua infância de modo saudável. Se assim se fizer, será difícil transgredir socialmente na adolescência.
Fonte: http://conselhotutelarondeesta.blogspot.com
Impossível não ficarmos tocados com a série de reportagens sobre os adolescentes infratores. A análise sobre os péssimos desfechos de um grupo, após dez anos de atendimento socioeducativo, nos horrorizou. A pediatra Joelza, guerreira no assunto de maus tratos infanto-juvenis e diretora da Fase, mostra-se apreensiva e fala que muitas mudanças precisam ser feitas. Um psiquiatra do mesmo serviço manifesta total descrença sobre as chances de cura ou reabilitação dos internos infratores. Trago, então, o tema tentando repensar a prevenção, em como evitar o nascimento de jovens delinquentes.
Quando iniciamos os estudos sobre adolescência aqui no Rio Grande do Sul, nos anos 80, buscamos subsídios de várias fontes: no Rio e em São Paulo já existiam serviços vinculados às Faculdades de Medicina e alguns países já possuíam tradição de atendimento clínico nesta área da Pediatria. Porém, nossa maior fonte de conhecimentos foi a Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta instituição prima por normatizar ações educativas e preventivas em saúde. Pois a OMS enfatiza que na adolescência a prevenção tem de ser primordial, isto é, ela tem de anteceder os fatos, ela tem de ser realizada na origem dos problemas, muito precocemente. Então, para não delinquir na infância/adolescência é preciso ter um bom começo de vida.
Felizmente no Brasil a gestação na adolescência tem diminuído nas últimas décadas, embora ainda preocupe. A taxa era de 20% do total de gestações e agora, no estudo de Pelotas está em 14,5%. O bebê tem de nascer onde houver um par de bons cuidadores. A mãe deve fazer um pré-natal completo, deve preferir um parto natural numa maternidade qualificada. O hospital deve possuir o título de "Hospital Amigo da Criança", que significa estar preparado para prestar bons cuidados e ser um incentivador de aleitamento materno. Os vínculos criados entre mãe-bebê nos primeiros meses vão deixar marcas indeléveis na mente do bebê e serão marcadores de bom futuro. Outros vínculos também são fundamentais, como ter endereço fixo, pais trabalhando, ter avós, ter histórias de família.
Durante a primeira infância, que são os dois primeiros anos, é essencial pertencer a um grupo familiar. A família atual é variável. Ótimo se forem pai e mãe juntos. Poderá também ser uma avó, a mãe sozinha, outro familiar, mas é imprescindível que o cuidador seja protetor e que a criança possa ainda frequentar creche, se for preciso. Nos anos pré-escolares deverá estar vigiada pelos familiares e pela escolinha, devendo brincar muito. No período escolar os pais devem compartilhar sua evolução e a escola, ser acolhedora e estimulante. Nesta trajetória ideal, ao surgirem problemas de saúde ou de conduta, é preciso que exista um acesso fácil e seguro a um local de atendimento multiprofissional. Sabemos que os serviços são insuficientes! Há poucos pediatras, psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais na rede pública e os casos não encontram acolhimento ou são atendidos com deficiências.
Diz a ministra Maria do Rosário que é preciso envolver a família, a sociedade e o poder público nas medidas preventivas. Todos temos uma parcela de responsabilidade. Lembro um filme de Ingmar Bergman sobre uma aldeia norueguesa onde havia um menino órfão com conduta antissocial. O que fazer com o menino era resolvido numa reunião da comunidade onde era decidido, em grupo, qual a família o acolheria e por quanto tempo. Com a descontrolada urbanização, impossível medidas deste tipo entre nós. Pode-se, entretanto, repensar em cada caso de distúrbio familiar e/ou infantil, as possibilidades de diagnóstico e de atendimento e lutar para que se concretizem as medidas necessárias e para que toda criança tenha um lar (talvez adotivo) para vivenciar sua infância de modo saudável. Se assim se fizer, será difícil transgredir socialmente na adolescência.
Fonte: http://conselhotutelarondeesta.blogspot.com
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